Texto escrito pela colunista psiquiatra Dra Isabelly Florentino.
Recentemente, a Anvisa proibiu a comercialização de 140 substâncias para emagrecer. A decisão ocorreu após a morte de uma enfermeira em fevereiro por hepatite fulminante. A mesma tinha tomado um chá emagrecedorcom 50 ervas.
O uso indiscriminado de métodos para emagrecer é muito comum entre as mulheres. Provavelmente, você já deve ter conhecido alguém que ingeriu algum produto emagrecedor ou você mesmo já deve ter tomado algum, certo?
Infelizmente, essa é uma realidade corriqueira. Pior que há muitos profissionais, inclusive da área de saúde, que estimulam essa prática. Todavia, emagrecer a qualquer custo pode custar caro. Não só o custo financeiro, mas também com o risco de adoecimento e morte, como foi no caso da enfermeira.
Vivemos numa ditadura da magreza em que há uma enorme pressão social para o emagrecimento, reforçada pela indústria da beleza e veiculada pela mídia. Frequentemente, deparamos com alguém fazendo propaganda de algum método milagroso para emagrecer. E centenas de mulheres embarcam nessa, sem grandes ou duradouros resultados. Isso acontece porque o cérebro não percebe a perda rápida de peso como uma conquista, mas sim como um perigo. Desse modo, ocorre uma série de alterações no organismo para evitar a perda de gordura, a fim de protegê-lo.
Além disso, a maioria dos produtos comercializados para emagrecer não apresenta eficácia comprovada. Muitos podem gerar tolerância, ou seja, precisam ser usados em doses cada vez maiores para ter o mesmo efeito do início. Alguns têm ação diurética, em que atuam nos rins e aumentam a eliminação de água pela urina. Outros são laxantes, ou seja, provocam irritação no intestino e fazem o indivíduo evacuar mais vezes e em maior quantidade. Vale lembrar que os laxantes não impedem a absorção de nutrientes calóricos pelo intestino delgado, pois sua atuação é no intestino grosso.
Assim, tanto os diuréticos quanto os laxantes não emagrecem, apenas desidratam e causam perda de íons. No entanto, como a perda de água gera uma redução imediata das medidas da barriga, a pessoa tem a impressão de que emagreceu e vai querer repetir o uso dessas substâncias, levando à dependência. Após um tempo, se o uso for interrompido, haverá um efeito rebote. Nele, a pessoa apresenta constipação, se tomava laxante, e inchaço, se tomava diurético, e, por achar que está engordando, volta a ingerir mais produto.
Outrossim, engana-se quem pensa que os remédios ditos naturais são isentos de risco à saúde. Ao eliminar íons, como o potássio, o produto natural com efeito laxativo ou diurético pode aumentar o risco de arritmia e levar à morte súbita. Sem falar que essas substâncias interagem entre si, aumentando os efeitos colaterais de uma ou reduzindo a eficácia terapêutica de outra. Muitas podem, inclusive, ser tóxicas para algum órgão, como o fígado, principalmente quando usadas em altas dosagens ou combinadas, ocasionando a morte.
Porém, se você deseja emagrecer, não desanime, há métodos seguros e eficazes! Importante que você saiba que é este um processo que necessita de uma equipe multidisciplinar e do seu comprometimento para mudar o estilo de vida. Busque um profissional confiável para fazer uma avaliação.
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